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Eu aposto que você já se perguntou porque uma pessoa foi promovida para um cargo de liderança e outra não. Dentre uma série de fatores, um deles é o conjunto de habilidades chamado de Presença Executiva. Em uma série de três artigos aqui, vou decifrar cada aspecto desse código secreto que guarda a chave do próximo nível executivo.

Na maioria das empresas, a Presença Executiva tradicionalmente se resume a três habilidades: Seriedade, Comunicação e a Aparência “certa”. Mas falta contexto sobre como estas qualidades devem ser demonstradas hoje, num mundo pós-pandemia, com guerras, mudanças climáticas, movimentos sociais amplificados por redes sociais e etc.

A confiança e a determinação definitivamente não saíram de moda; estas ainda são as características mais procuradas que contribuem para a Seriedade, que representa grande parte da Presença Executiva. No entanto, a Inclusão, em todas as suas manifestações — como respeitar os outros, ouvir para aprender, autenticidade — entrou na lista dos componentes mais valiosos de todas as dimensões da Presença Executiva. Essa mudança reflete o novo peso da diversidade, equidade e inclusão na estratégia de negócios.

Sabe aquele exemplo clássico da personificação de um CEO? Um homem branco hétero com família tradicional, tido como modelo de líderes corporativos nos EUA e na Europa. Este modelo tem se deteriorado há algum tempo. Em um recente artigo na Harvard Business Review, Sylvia Ann Hewlett, economista e autora premiada, compartilhou as últimas descobertas de sua pesquisa sobre o que é importante hoje para a tal Presença Executiva, para esclarecer qual é o modelo de liderança preferido atualmente.

Sylvia fez uma pesquisa com dezenas de executivos em 2012 e em 2022, e comparou o que eles elencam como características mais importantes para um líder. Ela chegou a uma feliz conclusão: mulheres e outras minorias não precisam mais se encaixar em um molde não feito para elas. Mas ainda é preciso cultivar uma personalidade confiante, decisiva, polida e dominante. Enquanto isso, os executivos daquele modelo padrão antigo, precisam se atualizar e devem se esforçar para atender às crescentes expectativas de que os líderes sejam “reais” — tanto online quanto pessoalmente — e, ao mesmo tempo, garantir que os membros da equipe se sintam vistos, ouvidos e valorizados.

Em poucas linhas, eu já te disse o que é mais valorizado hoje. Então já dá para você refletir aí o quão hábil você é nestas dimensões. Eu preciso confessar que ainda tenho uma estrada longa para aprender mais sobre diversidade. Em uma recente entrevista, um CEO me perguntou o que eu já havia feito em prol da diversidade. Parei para pensar alguns segundos e dei alguns exemplos. Mas certamente, tenho sido mais intencional em tudo relacionado à diversidade desde aquele dia.

Agora, vamos finalizar com o resumo de alguns exemplos que o artigo de Sylvia traz sobre uma das características mais importantes para a Presença Executiva: a Comunicação. 

Boas Práticas de Comunicação dos C-Levels

Trabalho online

A Covid-19 acelerou a mudança para a comunicação virtual, e muitos dos executivos entrevistados em 2022 disseram que tiveram dificuldade em dominar a arte de liderar no Zoom, no Teams, no Slack e em outras plataformas online. Mas fazer isso é fundamental para a Presença Executiva hoje.

Supere o visual

O falecido cofundador e CEO da Apple, Steve Jobs, tinha um domínio lendário do que ele chamou de “o visual”. Esse foi o molho não tão secreto que lhe permitiu inspirar seus engenheiros e despertar a alma de milhões de novos usuários de tecnologia, independentemente de ele comparecer pessoalmente ou por vídeo.

Ele conseguiu isso eliminando o supérfluo: seu estilo de falar era nítido, claro e conciso; ele usava cenários em branco; e usava roupas minimalistas que sinalizavam elegância ousada, mas não perturbavam. Mais importante ainda, ele dispensou notas, púlpitos, teleprompters e PowerPoints, concentrando-se no contato visual.

Seja cara a cara ou na câmera, Jobs sempre olhava diretamente nos olhos de uma pessoa. Seus visuais tinham um peso especial porque eram baseados na estética limpa e nos valores zen que eram fundamentais para quem ele era e o que sua empresa representava.

Gerencie reuniões virtuais de forma proativa

Como diretora financeira da Reginn, uma empresa imobiliária islandesa com clientes em todo o mundo, Rosa Gudmundsdottir se tornou uma especialista em organizar reuniões virtuais de alto impacto.

Ela segue algumas regras simples: primeiro, ela supervisiona uma breve verificação técnica com antecedência para garantir que não haja problemas. Em segundo lugar, ela distribui uma agenda e pré-leituras relevantes com pelo menos seis horas de antecedência. Em terceiro lugar, ela inicia as reuniões apresentando qualquer pessoa nova ao grupo, tendo o cuidado de destacar um conjunto de habilidades ou uma experiência que a pessoa traz para o assunto em questão. Quarto, durante a reunião, ela solicita a participação de todos os presentes, incentivando aqueles que estão quietos a compartilhar suas ideias sobre uma questão-chave. Finalmente, no final da reunião, ela pede a um colega que escreva e distribua rapidamente um resumo das decisões tomadas e das próximas etapas. Ela alterna esse trabalho para que toda a equipe tenha uma chance.

Ouça para aprender

Embora a exibição de Força estivesse no topo da lista das características de comunicação mais procuradas em 2012, ela é a menos desejada hoje. As pessoas agora gravitam mais em torno de líderes que sabem ouvir e aprender com os outros antes de tomarem decisões, uma característica vista como fundamental para o crescimento dos mercados e a retenção dos melhores talentos.

Exemplo da LEGO: Quando Jørgen Vig Knudstorp assumiu o comando da Lego, a empresa estava com dificuldades. Sua teoria era que ela havia se afastado muito de sua missão principal ao se diversificar em roupas, parques temáticos, jóias e videogames da marca Lego, mas, como novo executivo-chefe vindo de fora, ele queria testar essa hipótese antes de agir de acordo com ela.

Durante um período de 12 meses, ele conversou com todas as categorias de funcionários da LEGO — engenheiros na oficina de design, trabalhadores no chão de fábrica, executivos na suíte C — buscando informações e orientação. Ele também se reuniu com partes interessadas externas, incluindo clientes, varejistas e especialistas em educação infantil. Ele até passou três dias em uma conferência de Lego para fãs adultos em Washington, DC, se misturando com os participantes e prestando atenção às suas preocupações.

Essa jornada de escuta revelou uma onda de apoio para que a Lego se concentrasse novamente em seus blocos de construção exclusivos, projetados para estimular as habilidades de resolução de problemas e a criatividade das crianças.

Posteriormente, Knudstorp incorporou a escuta “de perto e pessoalmente” na cultura da empresa. Por exemplo, todos os anos, a Lego envolve milhares de seus clientes como “designers voluntários” para aconselhar sobre atualizações de produtos. Esse processo consultivo contínuo é uma grande parte do motivo pelo qual a empresa está de volta à trajetória de crescimento.

Exemplo da Unilever: a empresa fabrica e comercializa centenas de bens de consumo em 190 países, leva a escuta a sério, pedindo a líderes atuais e futuros selecionados que passem um tempo fora do reino de suas experiências normais em um programa chamado GITS (Get Inside the Skin).

O GITS foi projetado para ensiná-los a ter uma melhor empatia com os 3 bilhões de clientes da empresa, que vêm de todas as esferas da vida. O ex-presidente e CEO Niall FitzGerald ajudou a criar o GITS e também participou como voluntário do Exército de Salvação na Croácia, onde interagiu com os desabrigados. Ele descreve o encontro com um “homem despenteado e descuidado” que por acaso era de sua própria cidade natal na Irlanda. 

“Éramos duas pessoas a quem o destino tinha dado mãos muito diferentes”, lembra FitzGerald. “Ele me ensinou, de uma forma que nenhuma outra experiência tem, o poder de ouvir generosamente, sem julgamento.” Outros funcionários da Unilever passaram algum tempo em um hospital rural no México, em uma clínica de AIDS na Irlanda e em uma prisão na Alemanha. Como a FitzGerald, esses líderes estão trabalhando duro para entender melhor todos os seus clientes.

Esses exemplos trazidos pela autora do livro Presença Executiva 2.0, são reais e muito úteis para pensarmos como trazer para a prática ações de comunicação na nossa liderança. Além de tudo que ela trouxe, eu quero dividir mais uma dica que eu faço com as minhas mentoradas: se grave com seu celular quando for apresentar em alguma reunião. Observe se você tem vícios de linguagem, se você hesita muito ao falar e se repete muito alguma palavra. Recomendo muito um curso de oratória para que você consiga se expressar de forma clara, calma, concisa e eficiente. Acredite, esse investimento vai te trazer um retorno enorme. E eu nem vendo curso de oratória…é apenas uma recomendação genuína que pode fazer milagres pela sua carreira!

No próximo artigo das habilidades da Presença Executiva, vou falar da “Aparência”. Não perde e me conta se você tá gostando! Até breve!

Bia Padrão

Autor Bia Padrão

Beatriz Padrão é Mentora, coach de carreira, professora de liderança e atualmente é Diretora Executiva da Gympass. Com quase 20 anos de carreira em grandes empresas, já passou por Globo, Uber e WeWork. É Apaixonada por ajudar profissionais a se desenvolverem!

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